
Expondo pela primeira vez na América Latina, o artista franco-argelino Kader Attia estreia com a mostra Irreparáveis Reparos, individual em cartaz de 20 de outubro de 2020 a 30 de janeiro de 2021 no Sesc Pompeia. Com curadoria da historiadora de arte alemã Carolin Köchling, a exposição traz ao público brasileiro obras inéditas e trabalhos emblemáticos de Attia.
Inicialmente prevista para acontecer entre os meses de abril e julho deste ano, a mostra, que teve sua abertura adiada devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19, agora pode ser visitada gratuitamente pelo público de terça a sexta, das 15h às 21h, e aos sábados, das 10h às 14h, mediante agendamento prévio pelo site. As visitas à exposição de Kader Attia têm duração máxima de 90 minutos e o uso de máscara facial é obrigatório para todas as pessoas, durante toda a visita.
O galpão expositivo do Sesc Pompeia abriga sete salas montadas especialmente para receber instalações, fotografias, esculturas e obras em outros suportes que refletem a intensa pesquisa realizada nos mais de 20 anos de carreira do artista. As criações artísticas de Kader Attia dialogam com temas latentes na contemporaneidade, como reparação, pós-colonialismo, diásporas africanas e questões relacionadas a como essas marcas históricas são vividas e revistas entre as nações.
Para o artista, a concepção de reparo pode ser entendida tanto como um processo de amalgamento das instituições ou das tradições; dos sujeitos ou dos objetos, como ainda pode estar ligado às perdas ou feridas, à recuperação ou à reapropriação da história.
Enquanto a noção de reparo no Ocidente tenta retornar os objetos a um estado e a uma ordem original, buscando uma perfeição e estética idealizadas, Attia apresenta uma outra forma de reparo, em que, por exemplo, sociedades que passaram por interferências de colonização transformam materiais e objetos da modernidade ocidental em suas próprias construções culturais, como na obra Injury Reappropriated.
Muitos trabalhos do artista podem ser lidos em conexão com o Brasil, tendo em vista paralelos históricos e heranças estruturais. Esse vínculo é percebido na videoinstalação Mimesis as Resistance. Nela, pássaros “assimilam” e reproduzem sons de motosserras, sons daquilo que reconhecidamente representam o processo de destruição da natureza. Tal característica de mimetizar os barulhos dos equipamentos responsáveis pela devastação ambiental pode ser compreendida, inclusive, como crítica ao sistema de exploração contínua na Amazônia e a destruição do território dos povos nativos.
De acordo com a curadora Carolin Köchling, “a concepção que Attia tem de reparo contraria a ruptura da modernidade Ocidental com o passado, que favorece o progresso de consumo, que alimenta o mito de que o reparo pode apagar a lesão, levando ao apagamento da memória. No contexto da complexa história brasileira de colonização e escravidão, a exposição tem como objetivo proporcionar uma reflexão sobre os legados e as manifestações coloniais nos dias atuais”.
A mostra ganha uma instalação inédita em conexão com temáticas brasileiras, Untitled, sobre como o deslocamento de artefatos culturais de comunidades africanas e indígenas apontam para uma transformação estrutural forçada, na diáspora, em museus ocidentais.
A exposição acompanha o envolvimento de Kader Attia com as correlações entre humanidades e objetos culturais, arquitetura, gênero e natureza; bem como os efeitos do trauma material e imaterial sobre o indivíduo e grupos sociais.
Serviço