19 fev 2021

Arte

Na pandemia, companhias de dança brasileiras perdem apoio e apostam em lives

Espetáculo “Tatyana”, da Companhia de Dança Deborah Colker, foi disponibilizado online durante a pandemia (Arte sobre foto: Reprodução / Teatro Colón)

A dança vem sendo um excelente remédio para o confinamento e forma de aliviar a pressão de um ano de pandemia, mas a leveza de sua prática amadora em nada tem a ver com as dificuldades que companhias de dança, coreógrafos, bailarinos e profissionais do setor têm enfrentado durante este, que é um dos períodos mais difíceis da história recente da humanidade.

Sem a possibilidade de levar sua arte ao palco e impossibilitados de apresentar suas produções ao público presencialmente, a dança brasileira vem perdendo apoio financeiro e aposta em apresentações online para sobreviver ao período.

Investimentos já vinham diminuindo, mas pioraram na pandemia

De acordo com pesquisa da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos, mais da metade da programação deste ano foi cancelada, com perdas estimadas em R$ 90 bilhões.

Se o advento da Lei Aldir Blanc, que garante verba emergencial para o setor da cultura, ajudou as atividades a serem mantidas, o recente desmonte das verbas de auxílio à cultura, somado à crise causada pela pandemia, tem dificultado o processo: em janeiro deste ano, a Petrobrás deixou de patrocinar o Grupo Corpo, uma das mais importantes companhias de dança contemporânea do Brasil – a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) substituiu a estatal petrolífera nas cotas de patrocínio, mas a tendência é recorrente por todo o Brasil.

Para se manter ativos em um período em que o convívio está prejudicado, companhias têm apostado nas lives e nas apresentações online. É o caso de JUNTOSESEPARADOS VERSÃO 2, da Anti Status Quo Companhia de Dança. O espetáculo “é um jogo de interação entre nove pessoas que a partir da condição de isolamento social e mediados pelas telas dos computadores descobrem uma linguagem doméstica, íntima e lúdica refletindo sobre os paradoxos da situação em que vivemos e a busca por uma nova subjetividade que dê conta do momento”. Cada bailarino dança a partir de seu computador em interação virtual com os outros bailarinos por meio das múltiplas telas do ambiente de videoconferência, explorando as ferramentas disponíveis específicas do aplicativo de reuniões virtuais.

Internet e lives surgem como alternativa

A tendência vem se mantendo em companhias pelo Brasil: a Companhia Deborah Colker, por exemplo, disponibilizou online os balés 4 por 4, Cruel, Tatyana (que ilustra esta matéria), Belle e Cão Sem Plumas. Para ter acesso as vídeos basta acessar o site www.ciadeborahcolker.com.br. Outros apostam nas aulas online, como a Companhia Jovem de Dança, de Jundiaí (SP). Ao G1, o diretor artístico Alex Soares contou que “tem brasileiro que está morando na Europa fazendo aula. Está aberto a todo mundo, em qualquer lugar do mundo. A pessoa coloca o fuso horário de onde ela está para ficar junto com a gente. Ficamos pensando em como poderíamos fazer para manter o corpo ativo, que é o instrumento de trabalho do bailarino. Reunimos toda a companhia, fizemos um teste inicial e vimos que era possível, então pensamos em abrir para todo mundo”.

Para o futuro, o retorno do público e das apresentações presenciais surgem como esperança, mas a internet pode ser uma alternativa mesmo quando os espetáculos voltem aos palcos. Se o investimento não deve voltar aos patamares anteriores, as alternativas surgidas durante a pandemia podem ser a solução.

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