27 ago 2021

Arte

MASP inaugura exposições sobre artistas mulheres modernistas

 

O Museu de Arte de São Paulo (MASP) inaugura nesta sexta-feira (27/8) duas exposições dedicadas a artistas mulheres decisivas para a arte moderna no Brasil: Maria Martins (1894 – 1973) e Gertrudes Altschul (1904 – 1962). As mostras integram o biênio da programação da instituição dedicado às Histórias Brasileiras, em 2021-2022, coincidindo com o bicentenário da independência em 2022.

Neste primeiro ano, todas as exposições são dedicadas a mulheres: além de Martins e Altschul, o museu programou individuais de Conceição dos Bugres, Erika Verzutti e Ione Saldanha, enquanto na Sala de Vídeo exibe trabalhos de Ana Pi, o coletivo Teto Preto, Regina Vater, Zahy Guajajara e Dominique Gonzalez-Foerster.

Maria Martins: Desejo Imaginante celebra essa artista fundamental na história do modernismo brasileiro e no panorama do surrealismo internacional. Ela é conhecida por suas esculturas em bronze, seus desenhos e suas gravuras que representam figuras femininas híbridas, bem como mitologias indígenas amazônicas, afro-brasileiras e da antiguidade clássica.

 

“Prometeus I” (1949), de Maria Martins. Foto: MASP/Divulgação

 

Trata-se da mais ampla exposição dedicada a Martins, incluindo 45 trabalhos, entre esculturas e gravuras, produzidos nas décadas de 1940 e 1950, além de 41 publicações e fotografias que narram a história da artista. A mostra é dividida em cinco núcleos que abordam como Martins articulou os diversos imaginários acerca do Brasil e dos trópicos ao longo de sua produção – um lugar reivindicado, reafirmado e reinventado por ela.

Foi nos anos 1940, após mudar-se para os Estados Unidos, que Maria Martins se tornou mais conhecida como artista e intermediadora cultural, obtendo rápida inserção no circuito internacional. O fato de ter desenvolvido grande parte de seu trabalho no exterior a impediu de participar ativamente dos movimentos modernistas brasileiros.

 

“O Implacável” (1947), de Maria Martins. Foto: MASP/Divulgação

 

Porém, Martins não deixou de realizar suas leituras e contribuições únicas a respeito de certa visualidade nacional, o que acabou lhe rendendo a alcunha de “escultora dos trópicos”. A artista buscou nas mitologias amazônicas e na cultura afro-brasileira referências para suas primeiras obras, dialogando com as tendências modernistas brasileiras da primeira metade do século 20. No entanto, a partir
de meados dos anos 1940, deixou de lado uma visualidade comumente associada ao Brasil e passou a criar suas próprias mitologias em peças de bronze de médias e grandes dimensões.

Questões relacionadas ao desejo, ao erotismo e a uma ideia de feminino sempre estiveram presentes na prática artística de Martins e ganham ares “monstruosos” e inquietantes, desafiando a moralidade da época e as expectativas do público internacional a respeito do trabalho de uma artista brasileira. O título da exposição deriva de uma obra de Martins chamada Désir Imaginant (“Desejo que Imagina”, ou “Imaginante”), cujo paradeiro atual é desconhecido.

 

“Acaso Desvairado” (1947), de Maria Martins. Foto: MASP/Divulgação

 

Gertrudes Altschul: Filigrana recupera essa figura pioneira no contexto da fotografia modernista brasileira. Embora a artista seja bastante admirada no meio fotográfico no país, sua obra ainda é conhecida apenas em círculos especializados, tendo sido escassamente publicada e exibida.

A exposição, que toma emprestado o título de uma das mais célebres fotografias de Altschul, Filigrana, apresenta 62 fotografias vintages – aquelas primeiras ampliações fotográficas feitas pela autora, frequentemente logo após a revelação do negativo. As obras são agrupadas em torno dos principais temas da artista: botânica, arquitetura e naturezas-mortas. São expostas também algumas imagens de tipos humanos, algo menos explorado por Altschul.

 

“Filigrana” (sem data), de Gertrudes Altschul. Foto: MASP/Divulgação

De origem judaica, a artista migrou para o Brasil em 1939 desde sua cidade natal, Berlim, com o marido, fugindo do regime nazista. Radicou-se em São Paulo, onde dividiu seu tempo entre a fotografia e a produção de flores para chapéus em uma fábrica administrada pelo casal.

No final da década de 1940, aproximou-se do famoso Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) em São Paulo, grupo que reunia fotógrafos alinhados com o movimento conhecido como Escola Paulista, pilar da fotografia moderna no Brasil. Após começar a frequentar as reuniões do FCCB e a enviar suas fotografias para a avaliação dos membros, foi aceita em 1952 como associada, tendo sido uma das poucas mulheres do grupo.

 

Foto de Gertrudes Altschul. MASP/Divulgação

A produção fotográfica de Altschul esteve em sintonia com a linguagem da fotografia moderna brasileira, que buscava romper com os princípios clássicos da composição por meio de construções geometrizadas, tanto abstratas quanto figurativas, e de experimentações com luz, sombras, linhas, ritmos, planos e processos de revelação e de ampliação. Nesse contexto, os principais temas de Altschul se concentram na arquitetura moderna brasileira e nos motivos botânicos, sobretudo as folhas, bem como nos objetos do cotidiano em diferentes escalas, espécies de naturezas-mortas fotográficas.

As exposições Maria Martins: Desejo Imaginante eGertrudes Altschul: Filigrana ficam em cartaz até 30 de janeiro de 2022.

 

Foto de Gertrudes Altschul. MASP/Divulgação

 

O MASP pode ser visitado de quarta a sexta, das 12h às 18h, e sábado e domingo, das 10h às 18h. Na terça-feira, a entrada é gratuita, das 10h às 18h. A entrada no museu é gratuita para pessoas com deficiência e acompanhante.

O agendamento online, inclusive para os dias gratuitos, continua sendo obrigatório e deve ser feito por este link.

 

Sem título, desenho de Maria Martins. Foto: MASP/Divulgação

 

Foto de Gertrudes Altschul. MASP/Divulgação

Veja também