Monumentos
MÃE OXUM
Av. Guaíba, na orla de Ipanema
Escultura em ferro de autoria de Gilberto Silveira (1999)
Escultura localizada no bairro Ipanema e que representa Oxum, orixá das águas doces e da força dos rios. Foi elaborada pelo artista Gilberto Silveira, porto-alegrense e morador do bairro. A ideia do monumento partiu da AFROBRAS (Federação da Religião Afro-Brasileira) que, para angariar fundos, realizou uma campanha na cidade e expôs, no Mercado Público, a maquete do projeto. O monumento foi inaugurado no dia 08 de dezembro de 1999, justamente no dia em que se festeja a orixá que, no Rio Grande do Sul, é sincretizada com Nossa Senhora da Conceição. A escultura de Mãe Oxum, na orla de Ipanema, demarca o legado e a presença negra na cidade de Porto Alegre e evidencia, também, um importante espaço de devoção religiosa. Assim como o Museu de Percurso do Negro, que perpassa espaços, memórias e objetos artísticos ao longo de um caminho repleto de histórias, a colocação de uma estátua de Oxum na orla de Ipanema demarca a relevância da comunidade negra na cidade através de seu legado religioso. Segundo estudos levados a cabo pelo antropólogo Pedro Ari Oro, o RS, ao contrário do que se pode pensar, é o estado que mais centros de religião de matriz africana possui. Nesse sentido, observarmos as festas de Oxum à beira do Guaíba e aos pés da estátua de Gilberto Silveira, assinalam não apenas fragmentos da história da cidade mas, também, a sobrevivência – e resistência – de elementos culturais vindos de além mar e que hoje fazem parte do amplo leque cultural da cidade.
ÍNDIA OBIRICI
Viaduto Obirici
Escultura em bronze de autoria de Nelson Boeira Fäedrich e Mário Arjonas (1975)
A escultura Índia Obirici foi projetada pelo pintor Nelson Boeira Fäedrich (1912-1994) e modelada pelo escultor Mário Arjonas (1925). Fäedrich, um dos mais importantes desenhistas do Estado, integrou o grupo dos Artistas da Livraria do Globo. Foi ilustrador e criador das capas dos livros de Érico Veríssimo e Simões Lopes Neto, além de criador de uma série alusiva aos contos de Andersen, atualmente em acervos da Dinamarca. Arjonas, filho do conhecido escultor André Arjonas, foi autor de diversos trabalhos na capital, onde se destacam as esculturas dos evangelistas, apóstolos e profetas da Catedral Metropolitana e, também, um rico conjunto de estátuas cemiteriais, com destaque a do músico Teixeirinha, localizado no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia. O trabalho que executam juntos retrata, ao mesmo tempo, parte da história da cidade e uma de suas mais significativas lendas. A escultura, inaugurada em 1975, está localizada em um pequeno largo ao lado do Viaduto Obirici, que foi inaugurado no mesmo ano. Segundo informa Antonio Vale Caldre Fião, que recolheu da tradição oral a versão contada por um índio guarani, de nome Vicente, Obirici transformou-se em um riacho após perder, em uma competição de arco e flechas, o coração do índio Upatã. Muito triste por ele ter desposado a índia que sagrou-se vitoriosa na competição, ela caminhou pelo arenoso terreno que hoje corresponde ao bairro Passo D’Areia, sentou-se sob uma figueira, chorou e implorou para que Tupã a levasse aos céus. Atendida, suas lágrimas formaram o Ibicuiretã, o arroio que corre sobre a areia. Este, que fazia parte da paisagem do bairro, foi aterrado quando da construção de grandes empreendimentos na região. Índia Obirici, muito além de ser uma mera escultura, é um chamado à história, memória e preservação do meio ambiente de Porto Alegre.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E MARIO QUINTANA
Praça da Alfândega
Escultura em bronze de autoria de Francisco Stockinger e Eloísa Tregnago (2001)
O monumento que reúne os poetas Mario Quintana e Carlos Drummond de Andrade, oficialmente chamado de “Monumento à Literatura”, é um dos mais conhecidos em Porto Alegre. Muitos que passam pela Rua dos Andradas e deparam com a obra sentam-se ao lado de Quintana ou abraçam Drummond para uma fotografia. Encomendado pela Câmara Rio-Grandense do Livro, foi inaugurado na 47ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre. A obra, que já foi muito vandalizada – roubo de peças e pichações –, não foi elaborada com o mesmo realismo que outras esculturas que adornam a Praça da Alfândega. Em pé, atrás de um banco característico de praça, está Drummond; sentado, fica Quintana. Este último, aliás, representado como sempre esteve nos bancos da Praça da Alfândega, quando, entre um cigarro e outro, transitava por entre os livros da Feira.
GENERAL OSÓRIO
Praça da Alfândega
Escultura em bronze de autoria de Hildegardo Leão Veloso (1933)
O monumento em homenagem ao General Osório, patrono da Cavalaria e considerado herói da Guerra do Paraguai (1864-1870), foi resultado de uma concorrência que, inicialmente, propunha a elaboração de uma estátua que representasse o general em pé. Porém, a obra que hoje está na Praça da Alfândega não apresenta Osório em pé, mas sobre o cavalo. Essa alteração aconteceu, segundo Alves e Doberstein, em virtude de uma mudança no regulamento do certame e do consequente aumento de valor do prêmio. O projeto escolhido foi a grandiosa estátua equestre de autoria de Hildegardo Leão Velloso. General Osório, na obra de Velloso, é representado de forma bastante realista e imponente; está sobre um pedestal de granito rosa que traz inscrições de frases de sua autoria. Foi elaborado para o conjunto da obra um pequeno espelho d’água. Um fato bastante curioso dessa obra é que, durante um temporal que atingiu Porto Alegre nos anos 1960, a estátua tombou e ficou muito danificada. Posteriormente, foi restaurada e recolocada no pedestal.
HOMENS E TOUROS
Praça Dom Sebastião
Paineis de aço recortado de autoria de Francisco Stockinger (1972)
Os painéis recortados de Xico Stockinger, destacado escultor austro-brasileiro, fazem parte de um amplo projeto de modernização da cidade de Porto Alegre. Nos anos 1970, com o considerável aumento da cidade, diversas obras foram realizadas, dentre elas as do Túnel da Conceição. Para ser efetivada a obra, um respiradouro foi construído na Praça Dom Sebastião, ficando um enorme bloco de concreto em meio a paisagem. Para sanar a problemática, a Prefeitura de Porto Alegre encomenda ao escultor Xico Stockinger uma obra para ali ser colocada. Homens e touros, como é conhecida, representa, segundo o próprio artista, o conturbado período político em que viveu nos anos 1970. Para ele, elaborar guerreiros e touros era uma forma de resistir – e sobreviver – no período da ditadura militar. O monumento, que foi, por muitas vezes, vandalizado, recebeu sua última restauração no ano de 2022.
LOUREIRO DA SILVA
Viaduto Loureiro da Silva
Painel de concreto em baixo-relevo de autoria de Vasco Prado (1970)
Da mesma forma que os painéis recortados de Stockinger, o mural de Vasco Prado foi encomendado para cumprir uma função bastante específica: adornar a grande parede do Prédio Itália, localizado ao lado do Viaduto Loureiro da Silva. O artista, que tem um significativo número de esculturas na cidade de Porto Alegre, foi, junto de outros artistas consagrados no contexto regional e nacional, um dos fundadores do conhecido Clube de Gravura. O grupo trabalhou, ao longo de anos, temas de cunho regionalista, focado na imagem do gaúcho e da realidade do campo. Ao tratarem o tema de forma crítica, apresentavam também, o cunho social de seu trabalho. O mural em questão foi encomendado pela Secretaria Municipal de Obras Públicas de Porto Alegre e foi a obra que “marcou o início da instalação de trabalhos artísticos em prédios públicos e obras viárias de Porto Alegre”. (ALVES, 2022, p. 345). Tanto o painel quanto o próprio viaduto foram inaugurados em 5 de novembro de 1970. A narrativa que o artista apresenta ao observador está diretamente relacionada à história da cidade. Ao centro, o casal açoriano demarca a interpretação consagrada da formação de Porto Alegre; ao fundo, elementos da paisagem e da modernidade da cidade: de um lado, a embarcação que desliza sobre as águas do Guaíba e encontra o pôr-do-sol; do outro, a silhueta dos prédios que, aos poucos, davam novos ares à cidade que crescia. Na porção inferior do painel, além das flores, um grupo a cavalo, trajando palas e chapéus, referencia Porto Alegre como a capital dos gaúchos (ALVES, 2022, p. 345). Atualmente, o monumento segue sendo alvo de ações depredatórias e, nos últimos dias, foi vandalizado novamente.
JÚLIO DE CASTILHOS
Praça da Matriz
Conjunto escultórico em bronze de autoria de Décio Villares (1913)
O monumento a Júlio de Castilhos, localizado na Praça Marechal Deodoro, popularmente chamada de Praça da Matriz, é um dos mais complexos que temos em Porto Alegre. A sua encomenda foi feita por Borges de Medeiros, à época presidente da província, para homenagear a memória e a trajetória de Júlio Prates de Castilhos, primeiro governante republicano do Rio Grande do Sul. Além disso, alinhado à doutrina positivista, que se vinculou enormemente à doutrina política do PRR (Partido Republicano Riograndense), a obra deveria passar às gerações futuras o legado do governante e, assim, ratificar a máxima de os vivos serem sempre e cada vez mais governados pelos mortos. Para que todos esses elementos fossem congregados em uma escultura, contratou-se o artista Décio Villares que, além de ser positivista e conhecer suas prerrogativas filosóficas e políticas, desde muito trabalhava na construção das imagens republicanas, notadamente a imagem de Tiradentes. Assim, o monumento congrega uma gama de simbolismos que retrata não apenas a trajetória pública de Castilhos mas, sobretudo, a base filosófica que orientou sua prática política. A obra, em forma piramidal e adornado em suas quatro faces, pode começar a ser observado a partir de sua parte superior. Lá percebemos, inicialmente, a representação de Marianne, alegoria feminina alusiva à República, sobre um globo com as 21 estrelas referentes aos Estados do Brasil. Ele é cingido por uma faixa que traz a inscrição Ordem e Progresso, uma das bases filosóficas da doutrina positivista. Logo abaixo, estão duas datas: 1789, referenciando a Revolução Francesa, base ideológica do movimento republicano, e 15 de novembro de 1889, data da proclamação da república brasileira. As alegorias que se encontram nas quatro faces do monumento apresentam a trajetória pública de Júlio de Castilhos. Villares inicia sua narrativa apresentando um jovem Castilhos na época da difusão das ideias republicanas. Ele traz na mão, e oferece ao observador, um exemplar do jornal A Federação, periódico que fazia circular, justamente, as ideias do PRR (Partido Republicano Riograndense). A segunda face, repleta de alegorias, apresenta Castilhos no apogeu de sua trajetória política. Sentado, em movimento de quem vai levantar-se, traz um livro na mão que, por estar entreaberto, dá a ideia de que estava sendo lido. Possivelmente Castilhos está se levantando para colocar as ideias recém lidas em prática; e sua atitude é encorajada pela alegoria da Coragem, disposta ao seu lado esquerdo. A Coragem, como se percebe, tem um dos olhos vendados, o que a impossibilita de ver os problemas e perigos que ainda rondam o seu governo. Para tanto, a Prudência, ao mesmo tempo que contem a Coragem, aponta para o perigo, representado pelo dragão. Castilhos ainda tem a sua volta outros atributos, como a Força, representada pelo soldado romano à sua direita, e o Patriotismo, que está sobre ele e segura uma bandeira. A terceira face do monumento apresenta, por fim, Castilhos no final de sua vida. O rosto com barbas longas e o corpo ainda jovem evidenciam, por fim, a prematura morte do líder político. A última face, que não apresenta Castilhos, mas sim um gaúcho, simboliza a saudação do povo riograndense ao seu líder. Afora as inúmeras alegorias, Villares colocou em sua obra alguns dizeres e datas que, da mesma forma das que encimam o monumento, fazem referência aos ideais republicanos. Dada a complexidade da obra, na ocasião de sua inauguração, em 25 de janeiro de 1913, Villares distribuiu folhetos explicativos.
AFLUENTES DO GUAÍBA
Jardins do DMAE
Conjunto de quatro estátuas italianas em mármore de autoria de José Albino
As quatro estátuas conhecidas como Afluentes do Guaíba, que compunham um chafariz de mármore, formaram, no século XIX, o primeiro monumento público de Porto Alegre. Instalado em 1866 na Praça da Matriz e adquirido por iniciativa da Cia Hidráulica, tinha por função abastecer a população com água além, também, de ser um elemento decorativo da cidade. José Obino, arquiteto italiano, “idealizou a instalação do chafariz como uma homenagem ao Guaíba e seus afluentes” (Alves, 2022, p. 172). Assim, na base do chafariz, foram dispostas as quatro esculturas, duas masculinas e duas femininas; sobre elas, uma bandeja encimada por uma estátua masculina “com características da alegoria da República” e que representava o Guaíba. Muito possivelmente, os nomes dos afluentes do Guaíba (Caí, Jacuí, Gravataí e Sinos), esculpidos em suas bases, foram realizados em Porto Alegre. A beleza desse monumento, no entanto desaparece quando observamos e conhecemos sua caminhada pela cidade de Porto Alegre. A estrutura do chafariz foi demolida em 1911 quando, em seu lugar, foi erigido o monumento a Júlio de Castilhos. As esculturas foram levadas para depósitos e, algumas elas, vendidas à particulares. No ano de 1924, por intermédio de artigos publicados no jornal Correio do Povo, evitou-se tragédia maior: que as estátuas virassem pó de mármore. Foram, assim, novamente adquiridas pela Prefeitura de Porto Alegre. Seis anos depois, foram instaladas na Praça Dom Sebastião, onde sofreram toda sorte de vandalismo. Nos anos 1990, mesmo cercadas, seguiram sendo alvo de destruição. Apenas em 2014, quando foram transferidas para a Hidráulica Moinhos de Vento, receberam tratamento e limpeza profissional. Agora, reencontrando seu lugar, os afluentes figuram como parte importante da história e patrimônio da cidade.
CHAFARIZ IMPERIAL
Parque Farroupilha (Redenção)
Chafariz em ferro fundido de autoria de Carrier-Belleuse (1866)
Assim como outros monumentos da cidade de Porto Alegre, o Chafariz Imperial possui uma trajetória interessante. Foi instalado em 1866, na Praça do Mercado (atualmente Praça XV de Novembro), com o objetivo de fornecer água potável à população. Alguns anos depois, em 1926, foi realocado na Praça Parobé, onde hoje está localizado o terminal Rui Barbosa. Nesta praça, ele passou a funcionar aos domingos e feriados. Quinze anos depois, em 1941, ele novamente mudou de lugar, ganhando espaço no Parque Farroupilha que, desde as Comemorações do Centenário Farroupilha, em 1935, já esboçava as linhas urbanísticas que se conhece hoje. O Chafariz Imperial, ricamente adornado com estátuas de crianças e carrancas, estava inserido no conjunto de sete chafarizes que, além de adornarem a cidade, forneciam água potável. De todos, foi o único que sobreviveu.
EXPEDICIONÁRIO
Parque Farroupilha (Redenção)
Estrutura de granito em forma de arco duplo de Antônio Caringi (1957)
O monumento é de autoria de Antônio Caringi, importante escultor brasileiro nascido na cidade de Bagé, no RS. Em 1928, quando se torna Adido Cultural no Consulado Brasileiro em Munique, volta-se ao estudo da arte e se forma nas principais instituições da Alemanha. Após a Segunda Guerra Mundial, volta definitivamente para o Brasil. Alguns anos após seu retorno, quando já residia em Pelotas, participa do concurso que visava a elaboração de um monumento que homenageasse os soldados brasileiros mortos durante a II Guerra Mundial. A ideia partiu do jornal Correio do Povo. A história do monumento inicia em 1946, quando é organizada uma grande campanha para viabilizar uma obra em memória aos soldados. A partir de então, projetos foram inscritos e comissões foram formadas por representantes de várias entidades. Ao final do processo, envolto em algumas polêmicas, o projeto selecionado foi o de autoria de Antonio Caringi, intitulado Altar da Pátria, seguido dos de Fernando Corona e Vasco Prado. O monumento, que faz alusão aos arcos do triunfo da antiguidade, traz, na face voltada a rua José Bonifácio, uma alegoria da Pátria. Ela está sobre um barco, que traz uma carranca de Hermes, e é ladeado por delfins. Segundo José Francisco Alves, tanto o barco quanto os delfins fazem alusão à simbologia do mundo dos mortos e homenageia os marinheiros da Marinha Mercante, mortos na costa brasileira durante a guerra. Nas laterais do monumento, baixos-relevos apresentam, a oeste, os combatentes das três armas e, a leste, três pracinhas. Na face que se volta ao Parque Farroupilha, uma grande alegoria da Bravura. No interior dos arcos, placas de bronze trazem os nomes dos combatentes mortos e das batalhas que a Força Expedicionária Brasileira participou durante o conflito.
O LAÇADOR
Sítio do Laçador (Av. dos Estados)
Estátua de autoria de Antonio Caringi (1958)
O Laçador, a mais conhecida e celebrada escultura de Porto Alegre e uma das grandes obras de Antônio Caringi, o chamado escultor dos pampas, possui uma história e trajetória bastante peculiares. Ela foi pensada e concebida para integrar o estande do Rio Grande do Sul na Exposição Internacional do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, no ano de 1954. Por certo, o objetivo era o de representar o gaúcho, também simbolicamente, nas comemorações dos 400 anos da capital paulista. A ideia inicial era fazer a doação da escultura para a cidade de São Paulo, o que não ocorreu. Fundida em bronze, ela foi inaugurada solenemente em Porto Alegre, em 20 de setembro de 1958, no conhecido Largo do Bombeiro. Depois disso, foi eleita símbolo de Porto Alegre (1992) e, por meio de lei estadual, tornou-se símbolo do Rio Grande do Sul (2008). O Laçador de Caringi apresenta, em sua vestimenta e postura, elementos que demarcam a relação do homem com o campo. A bota garrão de potro, a vincha, o tirador de couro, lenço e bombachas caracterizam o homem que, do alto onde foi colocado, observa altivamente o horizonte. Para José Francisco Alves, a grande característica e projeção da escultura é que ela não foi pensada e elaborada para ser colocada em uma exposição. Pelo contrário, foi concebida para ser – como ainda hoje é – símbolo do Rio Grande do Sul.
AÇORIANOS
Praça dos Açorianos
Conjunto escultórico de autoria de Carlos Tenius (1974)
O grande monumento dedicado aos açorianos em Porto Alegre é de autoria de Carlos Gustavo Tenius (1939), artista porto-alegrense, formado pela Escola de Arte da UFRGS, e aluno de Fernando Corona, outro grande expoente da escultura sul-riogradense. O monumento foi encomendado ao artista pela Prefeitura da cidade, em 1970. No contexto das comemorações do Biênio da Colonização e Imigração, a memória dos açorianos como pioneiros foi retomada e trabalhada em diversos espaços, sobretudo no público através de monumentos. A obra, elaborada em aço, possui 17 metros de altura por 24 de largura. O formato de embarcação elaborado por Tenius alude à travessia dos casais de sua terra natal ao Brasil. Além disso, construída por corpos em movimento, o conjunto parece alçar vôo conjuntamente com a figura alada que está na proa. Tal qual o mitológico Ícaro. O conjunto, nas palavras de Fernando Corona, apresenta “os açorianos simbolicamente nutridos de esperança” pois “elevam-se da terra na marcha heroica, libertos de opressões para os grandes destinos da terra que escolheram para engrandecê-la”. Como se percebe, uma narrativa que encontrou, no contexto dos anos 70, a exaltação à memória açoriana. O monumento passou, ao longo dos anos, por inúmeras intervenções, uma vez que, por ser o largo utilizado como “cachorródromo”, a base do monumento foi profundamente danificada.
Outros Monumentos
Giuseppe e Anita Garibaldi
Praça Garibaldi
Escultura em mármore de carrara de autoria de Filadelfo Simi (1913)
Monumento idealizado pela comunidade italiana do Rio Grande do Sul para homenagear o centenário de Giuseppe Garibaldi. Nele está, afora o próprio Garibaldi, sua esposa Anita. Das muitas histórias que essa obra possui, talvez a mais importante seja que, mesmo sendo dedicada a Garibaldi, e escultura foi uma das primeiras a apresentar uma mulher como protagonista da história brasileira.
Gaucho Oriental
Praça Garibaldi
Escultura em bronze de autoria de Federico Escalada (1935)
Oferecida pela colônia uruguaia ao Rio Grande do Sul, em decorrência do Centenário da Revolução Farroupilha em 1935, o Gaucho Oriental por muito tempo esteve “escondido” dos olhos dos porto-alegrenses. Por anos ficou em um espaço que, além de não lhe dar visibilidade, possibilitou diversos atos de vandalismo. Desde 2016 passou a ocupar lugar de destaque no Parque Farroupilha e pode ser apreciado por todos que passeiam pelo parque.
Bento Gonçalves
Praça Piratini
Escultura em bronze de autoria de Antônio Caringi (1936)
A estátua de Bento Gonçalves, importante líder da Revolução Farroupilha, foi encomendada pelos governos estadual e municipal para adornar o espaço onde ocorria, em 1935, as comemorações do Centenário da Farroupilha. Colocada em lugar de destaque durante as festividades, posteriormente foi deslocada para a Avenida João Pessoa onde está até hoje. Esse novo local, por certo, não foi escolhido aleatoriamente: por aquele espaço circularam, no século XIX, os farrapos. Bento Gonçalves, porém, apenas se fez presente no local em 1941.
Fonte Talavera de la Reina
Praça Montevideo
Escultura em Cerâmica de autoria de Juan Ruiz de Luna (1935)
Da mesma forma que outros monumentos da cidade, a Fonte Talavera de la Reina foi um presente à cidade pelo centenário da Revolução Farroupilha. Alocada no chamado marco zero da cidade, a fonte foi alvo de inúmeros infortúnios. O seu nome, Talavera de la reina, se deve a sua procedência. Ao ser encomendada para o ceramista Juan Ruiz de Luna, sua elaboração foi toda realizada no mais importante centro de cerâmica artística da época: a cidade de Talavera de la Reina.
Negrinho no Formigueiro
Palácio Piratini
Escultura em Bronze e base de basalto de autoria de Vasco Prado (1971)
Após sofrer, uma vez mais, os maus tratos do estancieiro que era seu dono, o Negrinho do Pastoreio acaba morrendo. E, para não gastar com enterro, o corpo do menino é por ele jogado na boca de um formigueiro, para que os insetos devorassem seu corpo. Passagem simbólica de uma das lendas mais conhecidas do folclore gaúcho, esta cena foi, também, a mais reproduzida por Vasco Prado. Afora a que se encontra no Palácio Piratini, podemos encontrá-la no Edifício Negrinho do Pastoreio (antiga sede da Caixa Econômica Estadual e Tudo Fácil) e nas cidades de Caxias do Sul e São Francisco de Paula. A cidade de Alegrete também possui uma escultura do Negrinho do Pastoreio, de autoria de Vasco Prado. Porém, diferente das demais, a da cidade da fronteira apresenta outra passagem da lenda, precisamente o momento que o menino cavalga, após sua morte, aos céus.
Almirante Negro
Parque Marinha do Brasil
Escultura em Bronze e base de alvenaria revestido de granito cinza polido de autoria de Vasco Prado(2001)
João Cândido Felisberto, o conhecido Almirante Negro, teve participação ímpar na história brasileira quando, em 1910, liderou a Revolta da Chibata. Para homenageá-lo em seu estado natal, um busto seu foi colocado no Parque Marinha do Brasil. A peça original foi elaborada por Vasco Prado ainda nos anos 1960, a pedido da Sociedade Floresta Aurora. Quando da homenagem ao Almirante Negro em praça pública, uma cópia, autorizada pelo Ateliê Vasco Prado, foi realizada e instalada no local no ano de 2001.
Três fases da vida
Palácio Piratini
Escultura em Pedra calcária (lioz) de autoria de Paul Landowski (1912-1913)
A escultura Três fases da vida faz parte de um amplo projeto escultórico realizado por Paul Landowski, o mesmo artista que elaborou o Cristo Redentor, no Palácio Piratini. Além dela, as duas grandes esculturas que ladeiam a porta principal do prédio governamental, são por ele assinadas. Um fato bastante curioso desse trabalho é que ele foi esculpido, em sua totalidade, em Paris. Além disso, as peças foram esculpidas em partes. Ao aportarem em Porto Alegre, foram remontadas no Palácio através dos encaixes que possuíam. O ambiente pastoril apresentado pelo artista fez com que a obra fosse chamada, também, de A Primavera.
Zumbi
Av. Loureiro da Silva
Escultura em Aço inoxidável e concreto de autoria de Claudia Stern (1997)
O monumento realizado por Cláudia Stern, inaugurado em 1997, é uma homenagem a Zumbi dos Palmares. Idealizado ainda em 1995, a obra era uma referência aos 300 anos de sua morte. Um aspecto interessante desse monumento é que, em dias de sol, a luz que incide na estrutura de aço, semelhante a uma lança fincada no chão, ilumina a palavra que está escrita na parte interna do semicírculo onde está inserida: Liberdade. Ainda em 2021 a obra foi revitalizada.
Monumento funerário de Júlio de Castilhos
Cemitério da Santa Casa
Escultura em mármore e bronze de autoria de Décio Villares (1909)
No jornal A Federação, periódico vinculado ao governo republicano riograndense, com data de 26 de outubro de 1903, era noticiada a morte de Júlio de Castilhos. Entre notas pesarosas e exaltadoras da memória do grande líder político, era publicada, também, uma resolução da Assembleia dos Representantes que, em meio ao choque pela perda de seu líder político, determina a elaboração de três obras de arte para a manutenção da memória do falecido: um monumento público, um monumento funerário e uma pintura em tamanho natural. O monumento funerário, erigido no cemitério da Santa Casa de Misericórdia, é repleto de simbolismos. Além disso, atenta às bases ideológicas do positivismo quando, na frase Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos, estampada na frente do monumento, atenta ao legado dos feitos do grande líder falecido.
Monumento funerário de Pinheiro Machado
Cemitério da Santa Casa
Escultura em bronze de autoria de Rodolpho Pinto do Couto (1923)
Pinheiro Machado foi um importante e destacado político do Partido Republicano Riograndense. Sua trajetória, marcada por discórdias políticas, finalizou quando, no Rio de Janeiro, foi esfaqueado pelas costas. O seu mausoléu, patrocinado pelo Estado e elaborado pelo artista Rodolpho Pinto do Couto, é um dos mais monumentais do cemitério da Santa Casa. Além de toda uma narrativa política, que tem seu corpo morto como centro, uma série de questões ideológicas estão presentes, como é o caso da Musa Clio que está a seus pés. Ela, com livro e pena na mão, escreve a história do falecido. O ato de registrar a trajetória de Pinheiro Machado era a de repassar às gerações futuras os seus feitos. Isto é, mais uma forma de os mortos, sempre e cada vez mais, governarem os vivos.
Anjo Pedro Ellera
Cemitério da Santa Casa
Escultura em mármore de autoria de Paul Landowski (Anos 1920, s.a.)
Um dos anjos mais expressivos do cemitério da Santa Casa, seja pela sua postura, seja pela forma como encontra o olhar do seu observador. Essa escultura, que tem no mesmo cemitério algumas reproduções, é a mais destacada dentre o conjunto de estátuas cemiteriais no mundo. Conhecida como Anjo de Monteverde, foi esculpida originalmente por Giulio Monteverde para a tumba de um banqueiro italiano.
Mausoléu Família Mathias Velho
Cemitério São Miguel e Almas
Escultura em bronze de autoria de A. Adlof e G. Gaudenzi (1927)
Ao se transitar pela Rua Oscar Pereira, onde está localizado o Cemitério São Miguel e Almas, é praticamente impossível não se perceber a estátua de um Cristo em bronze que sobe aos céus. Este é, sem dúvidas, um dos mais grandiosos monumentos religiosos do espaço. Na cena apresentada, dois soldados romanos abrem o sepulcro de Jesus. Ao verem sua subida aos céus, caem abismados aos seus pés.
Escultura em aço
Parque Marinha do Brasil
Escultura em aço corten de autoria de Amílcar de Castro (1997)
O monumento de Amílcar de Castro, um dos mais importantes artistas modernos brasileiros, foi exposto na I Bienal do Mercosul (1997). Nesta primeira edição foi montado, no Parque Marinha do Brasil, o Jardim das Esculturas. Afora ser espaço de exposição de obras no momento da Bienal, o jardim seria o lugar onde as obras ficariam como legado para a cidade. A obra de Amílcar, que já foi revitalizada, é uma das mais importantes do espaço.
O Tambor
Praça Brigadeiro Sampaio
Escultura em concreto armado de autoria coletiva (2010)
A obra foi idealizada para ser parte do Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre. Segundo os seus organizadores, a ideia do museu se articula quando se percebe a invisibilidade e a falta de representatividade negra no patrimônio cultural da cidade. O tambor foi colocado na atual Praça Brigadeiro Sampaio pois, no século XIX, era o local de enforcamento dos escravizados. Era chamada, por isso, de Largo da Forca.
Samaritana
Praça da Alfândega
Escultura em bronze de autoria de A. Adloff (1925)
Escultura realizada por Alfred Adlof para compor, inicialmente, o grandioso conjunto de estátuas do conhecido Chateau d’Eau, em Cachoeira do Sul. A Samaritana, afora as questões relacionadas ao seu nome, é uma estátua hidráulica que foi instalada, junto a um pequeno espelho d’água, na atual Praça Montevidéu. Foi retirada de lá e reinstalada na Praça da Alfândega quando, em 1935, no mesmo local foi colocada a Fonte Talavera de la Reina. A Samaritana, segundo Alves, é a estátua mais vandalizada da história de Porto Alegre. A original foi retirada do espaço público e, em seu lugar, foi colocada uma de resina. Esta igualmente foi vandaliza, mutilada e destruída.
Estrela Guia II
Av. Padre Cacique
Escultura em fibra de vidro, cimento e pedestal de concreto de autoria Gustavo Nakle (2002)
Em 1997, Gustavo Nakle, artista uruguaio radicado no Brasil, foi selecionado na quarta edição do concurso Espaço Urbano, Espaço Arte, certame promovido pele Coordenação de Artes Plásticas de Porto Alegre. Como disposto no edital, a obra vencedora poderia ser alocada em dois espaços da cidade: o Largo Dom Vicente Scherer e a Praça Leonardo Macedônia. Estrela Guia, obra vencedora, foi colocada no Largo Dom Vicente Scherer e, menos de um ano de sua instalação, foi roubada. Estrela Guia II, do mesmo artista, foi adquirida pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre como forma de reparar a perda da que havia sido vencedora do concurso. Atualmente está localizada no entroncamento das avenidas Padre Cacique e José Pinheiro Borda.
Supercuia
Esplanada Hely Lopes Meirelles
Escultura em resina sintética de autoria de Saint Claire Cemin (2004)
Monumento de grande visibilidade na rótula que, a partir de então, passou a ser chamada popularmente de Rótula das Cuias, o monumento Supercuia foi doado à capital gaúcha em 2004 quando das comemorações da 45 Semana de Porto Alegre. Elaborada originalmente para a IV Bienal de Artes visuais do Mercosul, ocorrida em 2003, a obra é de autoria de Saint Claire Cemin (1951), artista natural de Cruz Alta e radicado em Nova Iorque desde os anos 70. Homenageado na edição da mostra, ele teve sua obra exposta na Usina do Gasômetro, porém sem o suporte que hoje possui. Articulando elementos da cultura regional, como a cuia, e o “vigor platônico” geométrico, Supercuia é, hoje, elemento da paisagem porto-alegrense.
Olhos atentos
Orla Moacyr Scliar (Orla Gasometro)
Estrutura em metal de autoria José Resende (2005)
O desafio proposto por José Resende (1945), desenhista e arquiteto paulista, para a 5ª edição da Bienal de Artes Visuais do Mercosul, foi a elaboração de uma obra que, além de estar ao ar livre, proporcionasse a interação do observador junto a obra e o espaço onde seria colocada. Tal proposição, inclusive, vai ao encontro da própria trajetória do artista e de sua participação no Grupo Rex (1966-1967) e na Escola Brasil (1970). Ambas eram críticas ao sistema oficial de arte e buscavam, através de experimentações artísticas, superar os gêneros tradicionais de arte. Com base nisso, as inquietações de José Resende pairavam sobre a forma com a qual as vigas que formam a obra, que são enormes, seriam erguidas e suspensas. Segundo o próprio artista, “apoiando-se o mínimo possível uma de suas extremidades no solo, quanto de comprimento se consegue erguê-la?” É a partir desse questionamento e de experimentações que Resende concebe uma escultura que mede 30m de comprimento e que se apoia em apenas 2m. É por essa proporcionalidade, e pela suspensão do restante no espaço, que o artista consegue uma estrutura em balanço. A interação com o público se dá quando, caminhando por entre as vigas, em estrutura semelhante a um piso, se chega na extremidade suspensa no ar e se experiencia a tensão através do balanço. A obra, vale dizer, faz parte do quadro de obras permanentes da Bienal. Ela recebeu, assim como previa o projeto da mostra, o patrocínio de uma empresa privada, no caso o de uma rede de lojas de departamento. Esta, que toma para si a significação da escultura, a percebe, segundo José Francisco Alves, como uma ponte para o futuro. Isto é, da mesma forma que a loja se projetava no futuro, assim a obra corroborava seus intentos. O nome da obra, inclusive, foi dado através de um concurso entre os clientes da loja que, dentre muitas sugestões, elegeu-se Olhos atentos. A obra sofreu, ao longo dos anos, diversas intervenções, principalmente por conta do mau uso. Foi reinaugurada e aberta novamente ao público em 2021.