10 mar 2022
ArteO Dia Internacional da Mulher é uma data importante para celebrar as conquistas de todas as mulheres em qualquer lugar do mundo, mas também para jogar luz sobre os gritos e as lutas – expressões tão importantes na batalha constante que essa classe trava diariamente.
Para homenagear as mulheres talentosas, fortes e criativas que fazem da arte o seu trabalho, conversamos a escritora Eliane Potiguara, a atriz Raquel Grabauska e as cantoras Loma Pereira e Valéria Barcellos, que nos falaram sobre os desafios que o atual momento apresenta para elas, mulheres que vivem da cultura.
Além disso, preparamos uma playlist exclusiva com mulheres que participaram do Noite dos Museus 2020 e outras vozes femininas fortes que fizeram história na música.
Loma Pereira, cantora e compositora
Saudando as ancestrais desta terra e a todas as mulheres que nos possibilitaram chegar até aqui, deixo meu carinho e meu abraço a todas as mulheres pelo Dia da Mulher. Neste ano de 2020, provamos que somos capazes de muito, pois vencemos barreiras aparentemente intransponíveis. As rompemos com louros, com estrelinhas. Vejo um grande desafio neste momento, o de deixarmos o velho para trás. Tudo que não funcionou, que nos trouxe dessabores e que nos colocou nesta situação. Já governamos o mundo, muito tempo atrás, e perdemos o posto por não apoiarmos umas às outras. Precisamos superar a desunião, não nos preocuparmos se a outra é preta, se a outra não usa uma bolsa maravilhosa, onde a outra mora, nada disso interessa, o que interessa é a nossa visão de mundo: o que temos para contribuir? Vamos contribuir com as nossas experiências, pois estamos vivendo um momento de transição sensibilíssimo. O mais importante é as mulheres se unirem incondicionalmente. Temos ainda o grande problema de desunião.
Valéria Barcellos, cantora
Talvez a reinvenção seja o grande desafio. Achar novas alternativas, novas possibilidades, porque nunca vamos deixar de fazer. A existência das mulheres é ser desafiada e desafiar os limites que foram impostos, o modus operandi que dizem que temos que seguir. Eu, que estou com coronavírus, sofro com o desafio que é não poder usar minha voz como instrumento de mudança, de produção e reverberação da cultura. É um desafio muito significativo para mim, de ter a voz enfraquecida por um vírus, que nos impede de reverberar nossos anseios, nossas demandas, nossas denúncias. Para nós, mulheres que usam a voz para produzir cultura, é mais um tipo de silenciamento.
Raquel Grabauska, atriz, produtora, escritora e diretora do grupo Cuidado que Mancha
Acho que o principal desafio deste momento é ficar viva. Isso já nos exige bastante, mas, como artista, ficar viva é manter vivas as ideias, a possibilidade de criação, sendo mulher com uma carga horária gigantesca, da casa, dos filhos, por mais que eu divida isso com meu companheiro, ele no momento tem um salário fixo, eu não. A gente se dividiu nas atividades, uma parte da educação das crianças e da organização da casa fica comigo, mas a logística toda de manter viva a tua criatividade, buscar alguma sanidade, tudo isso numa estrutura de uma sociedade doente e sem perspectiva – e a gente, que tem um olhar sensível como artista, são muitas frentes para dar conta.
A arte é uma coisa pulsante, eu sinto que é um dos caminhos de sanidade para o mundo, de recuperação, de sensibilidade, de conseguir olhar para o outro, mas também algo que nos exige tempo, energia e é, para quem faz arte, um ofício. Um ofício que, hoje em dia, não tem recurso, e o desafio é perceber que somos cachorros correndo atrás do próprio rabo. O que fazemos para não ficarmos tontos?