10 mar 2022
LiteraturaEm cerimônia transmitida ao vivo no site do Itaú Cultural, responsável pela governança do prêmio, o
O romance O Plantador de Abóboras, do escritor timorense Luís Cardoso, publicado em Portugal pela editora abysmo, foi o vencedor do prêmio em primeiro lugar. É a primeira vez que um livro do continente asiático figura entre finalistas e vencedores do Oceanos.
“Mais uma vez, o resultado do prêmio Oceanos nos surpreende positivamente e reafirma a potência da literatura em língua portuguesa. A conquista da premiação por um livro cujo autor é de Timor-Leste é um grande exemplo e muito honra o significado e os objetivos do Oceanos”, afirmou Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
“Entre os países que falamos e escrevemos em português, pouco conhecemos da produção de livros naquele país. Ao se jogar merecida luz nesta obra e em seu autor, iluminamos mais um pouco o caminho que procuramos, o de gerar intercâmbio entre todas essas literaturas que acabam se tornando uma única voz”, acrescentou Saron.
O júri ressaltou a destreza e a desenvoltura narrativa do autor na construção de uma história atravessada pela violência que marcou o passado colonial do Timor-Leste. Nas palavras do autor Itamar Vieira Junior, jurado do prêmio, “é um romance que nos lembra que a língua portuguesa permanece viva e ganhou densidade e profundidade em cada fração de terra onde é falada. É um romance que nos faz refletir também que a história de uma personagem nunca é solitária – é uma história que carrega consigo a história de sua comunidade, de seu povo e, neste caso, a história de um país, o Timor-Leste”.
Em segundo lugar, ficou o romance O Ausente, do escritor e professor brasileiro Edimilson de Almeida Pereira, publicado no Brasil pela Relicário. A obra é o primeiro volume da trilogia Náusea, que inclui também Um Corpo à Deriva (Edições Macondo), que foi semifinalista do Oceanos, e Front (Editora Nós), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2021.
Para o júri, trata-se de um livro que rompe as fronteiras entre prosa e poesia, um exímio trabalho com a linguagem e com as inúmeras possibilidades de subvertê-la. Construído como um fluxo, em que nada está determinado – nem a própria língua, nem o nome da personagem –, O Ausente é um livro sobre liberdade, elemento que atravessa a construção da obra para recriar o universo rural, intimista e místico onde é ambientada a narrativa.
O terceiro lugar foi concedido ao romance O Osso do Meio, de Gonçalo M. Tavares, publicado em Portugal pela editora Relógio d’Água. O autor venceu o prêmio Oceanos em duas ocasiões: 2007, com Jerusalém, e 2011, com Uma Viagem à Índia.
De acordo com o júri, Gonçalo M. Tavares retoma nesse livro a perspectiva da violência – da escrita e do tema – e concebe um texto duro, de muita contenção. É um romance que, a partir da margem do terror, coloca o leitor em uma posição de fragilidade, mostrando um lado divergente daquilo que somos enquanto humanos, algo que receamos tornar-nos.
O Oceanos é realizado em três etapas de votação até chegar aos vencedores. Ao todo, foram 5.953 leituras realizadas pelos três júris que se sucederam na seleção de semifinalistas, finalistas e vencedores.
Participaram do júri para seleção dos três
Concorreram à edição 2021 do Oceanos 1.835 obras publicadas em 10 países: Alemanha, Angola, Áustria, Brasil, Cabo Verde, Espanha, Estados Unidos, Moçambique, Portugal e Reino Unido. Neste ano, o número de editoras participantes totalizou 337, com sede em sete países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Estados Unidos, França, Moçambique e Portugal. As edições independentes somaram 342 livros, representando 18,6% do total das inscrições – um aumento de mais de 100% em relação à edição anterior do prêmio.
De todas as edições do prêmio, o Oceanos 2021 apresentou a maior diversidade no que se refere à origem dos autores. Participaram escritores de Alemanha, Angola, Argentina, Brasil, Cabo Verde, China, Espanha, França, Haiti, Índia, Itália, Moçambique, Peru, Portugal, Rússia, Suíça, Timor-Leste e Venezuela – todos escrevendo e publicando originalmente em língua portuguesa.
A tecnologia desenvolvida pelo Itaú Cultural permitiu que todo o processo – a inscrição no prêmio, a avaliação dos livros e a demonstração dos resultados de cada etapa – fosse realizado por meios virtuais. Dessa forma, os júris internacionais puderam ler e avaliar, em uma plataforma digital, os livros que lhes coube pontuar