15 jul 2022
ArteO encontro entre arte e tecnologia tem conquistado a atenção dos espectadores mundo afora. Conheça alguns dos espaços em Porto Alegre que contam com exposições de arte imersivas com projeções tecnológicas.
Qualquer um que circule com frequência nas redes sociais já viu registros de exposições de arte em formato de projeção de imagens, com muita cor, vida e som rolando pelo feed. Muitas vezes, até quem não costuma frequentar museus é conquistado pela experiência imersiva de apreciar obras de arte de maneira inovadora.
Em 2019, a exposição itinerante dos 500 anos de Leonardo da Vinci, exibida na inauguração do MIS Experience, em São Paulo, foi o início da onda das exposições imersivas no Brasil. Idealizada pela empresa australiana Grande Exhibitions, criada em parceria com o Museo Leonardo da Vinci, em Roma, e com o apoio de diversos especialistas e historiadores da Itália e da França, a mostra apresentava projeções de algumas das principais obras do artista italiano.
A exposição “Leonardo da Vinci – 500 Anos de um Gênio” contava com 18 áreas temáticas, incluindo objetos em realidade aumentada, textos, vídeos e audioguia. Durante a pandemia, a exposição foi disponibilizada de forma online e gratuita, que incluía na visita virtual a sala imersiva Sensory4, com imagens em 360 graus.
O museu que recebeu a mostra inovadora de artes do gênio renascentista é, no Brasil, um dos espaços de referência na confluência de arte e tecnologia. O Museu da Imagem e do Som é uma instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo e foi inaugurado em 1970, contando com coleções e exposições que transitavam entre fotografia, vídeo, filmes e cartazes. Nos últimos anos, com as crescentes inovações tecnológicas, o MIS acompanhou a tendência e passou a sediar também exposições imersivas, com projeções visuais. Em 2019, foi inaugurado um novo espaço destinado para esse tipo de exposição, a iniciativa MIS Experience.
Em cartaz até dia 31 de julho no MIS Experience, a mostra interativa Portinari para Todos está dividida em três áreas expositivas, contando a vida e obra do artista modernista brasileiro. Em escala monumental e contemplativa, algumas das pinturas de Cândido Portinari são projetadas pelo espaço.
Multiverso: experiências imersivas para além da arte
Assim como São Paulo, Porto Alegre também se rendeu às exposições imersivas a partir de projeções tecnológicas. Desde dezembro do ano passado, o Multiverso, localizado no Cais Embarcadero (Av. Mauá, 1050 – Armazém A7), digitalizou mais de 40 obras de Van Gogh, projetando-as pelo espaço inteiro e criando uma experiência imersiva para quem visita. Em abril deste ano, as obras de Monet se juntaram às do pintor holandês e compuseram com arte e cor o espaço Multiverso, integrando a mostra “O Impressionismo de Van Gogh e Monet”. O Multiverso Experience fez parte do Noite dos Museus 2022, recebendo cerca de 3 mil pessoas em um ambiente com aproximadamente mil metros quadrados.
Vinícius Diettrich é um dos idealizadores do Multiverso e trabalha há cerca de 20 anos com conteúdo digital e instalações tecnológicas. Para alguém que vive há tanto tempo o mercado de conteúdos imersivos, Diettrich destaca que um dos pontos chave de uma exposição como “O Impressionismo de Van Gogh e Monet” é deixar o espectador confortável. Diferentemente de outras exposições de arte imersivas que optam por projetar imagens também no chão, Vinícius conta que optou pelo carpete no seu espaço, prezando pelo bem-estar de quem visitasse a mostra.
O empreendedor relata ainda que muitas pessoas, ao comparecerem à exposição, sentem-se à vontade para sentar no chão e convidadas a apreciar o show de luzes por horas, admirando um espaço ainda único em Porto Alegre. E o conforto é uma peça importante na experiência completa de imersão que o espaço busca proporcionar. Classificado como um showroom empresarial, o Multiverso recebe eventos, feiras e diferentes iniciativas que queiram usufruir da tecnologia de projeções.
Agora, além de obras de Monet e Van Gogh, o Multiverso conta também com a exposição “Quatro Estações”, com imagens de paisagens no verão, outono, inverno e primavera. As exibições, desde a criação do conceito, arquitetura, design e curadoria, são todas elaboradas pela equipe do Multiverso.
O Farol Santander de Porto Alegre também sedia uma mostra interativa, que tem como principal tema a preservação de biomas brasileiros. Idealizada pelo artista multimídia Ricardo Nauenberg, a exposição “ECOARt” busca unir os diálogos de arte e preservação ambiental, numa mostra de animação de imagens de biomas do país feitas pelos fotógrafos Araquém Alcântara (Amazônia e Pantanal), Cássio Vasconcellos (Mata Atlântica), Tadeu Vilani (Pampas) e André Dib (Cerrado e Caatinga). A exposição conta com totens monumentais que chegam a oito metros de diâmetro por seis metros de altura, que servem de tela onde são projetadas as imagens. O material audiovisual da mostra foi elaborado pela produtora de Nauenberg, chamada Indústria Imaginária, em atuação desde 1988 no mercado.
Além das projeções, um dos grandes diferenciais da exposição é sua complementaridade online. O texto de apresentação da exposição, que fica no início do salão onde está disposta a mostra, conta com um QR Code que leva o espectador para a Plataforma ZYX com parte dos conteúdos da exibição, como vídeos e áudios explicativos sobre a viagem pelos biomas que o artista propõe. Os vídeos têm narração e comentários do biólogo Gustavo Martineli, doutor em Ecologia pela University of St. Andrews, no Reino Unido. Para Nauenberg, as mostras online vão contra a corrente de efemeridade das exposições, o que, no tema da biodiversidade, pode ser muito importante. “Exposições são materiais que a gente monta e desmonta, são efêmeras, então (a exposição online) é uma maneira de contribuir para tentar deixar uma conscientização e uma educação das pessoas da importância do meio ambiente”, explica o curador.
Ricardo Nauenberg tem um extenso currículo nas áreas de fotografia, TV, cinema e design, tendo trabalhado durante 10 anos como diretor da TV Globo. A respeito de exposições imersivas com projeções imagéticas como a “ECOARt”, o artista acredita que elas têm o poder de conquistar o público muito pela característica do inusitado: “Você consegue criar uma surpresa, e as pessoas gostam de serem surpreendidas”.“ECOARt” fica em cartaz até o dia 24 de julho no Farol Santander de Porto Alegre. A mostra é aberta ao público mediante a compra do ingresso, que pode ser adquirido na bilheteria do local ou pelo site.
Arte digital na sua essência:
Atelier des Lumières
Apesar de contarmos com espaços memoráveis que proporcionam experiências de arte e tecnologia no Brasil, a maior instalação multimídia fixa do mundo fica longe daqui: é o Atelier des Lumières, em Paris, na França. Trata-se de um espaço com mais de 2 mil metros quadrados e com muros de até 10 metros de altura, que recebem projeções de diferentes obras e artistas. Aberto ao público desde 2012, o ateliê, que pertence à fundação Culturespaces, fica no antigo prédio da fundição dos irmãos Plichon, de 1835.
Uma das exposições que está em cartaz até 2023 no ateliê é “Kandinsky – A Odisseia do Abstrato”. A mostra consiste em uma exibição de 10 minutos explorando a arte do célebre pintor russo Wassily Kandinsky (1866 – 1944) em projeções de altíssima qualidade que ocupam todo o espaço físico.