25 mar 2021

Arte

50 anos de “Imagine”: por que o hino de John Lennon segue atual meio século depois

Álbum de maior sucesso da carreira solo de John Lennon, “Imagine” foi gravado entre fevereiro e julho de 1971 e lançado em setembro daquele ano (Arte sobre foto: reprodução da capa de “Imagine”, 1971, Apple Records)

Cinco anos antes, John Lennon havia ido aos microfones dizer que ele e seus companheiros de banda eram mais populares do que Jesus Cristo. Oito anos depois, morreria com quatro tiros dados à curta distância pelo fã Mark Chapman.

Nesse curto ínterim entre ser um dos Beatles e ser assassinado, John Lennon produziu algumas das mais belas canções pops já escritas – entre elas, em 1971, um hino atemporal que faz parte de qualquer lista de maiores músicas da história: Imagine, uma ode à paz utópica de um mundo sem fronteiras, sem fome e sem posses. Em 2021, meio século depois de ser lançada, a música ainda transpira atualidade.

Abaixo, listamos fatores que fazem de Imagine uma música cada vez mais contemporânea.

Temas políticos atualíssimos

Em um momento de extrema polarização, insinuações fascistas de líderes mundiais e ondas autoritárias em diversos países, versos como “imagine que não há países”, “imagine que não há posses (…), uma irmandade de pessoas”, “que o mundo viva como um só” soam bastante atuais: depois do cinismo cru de God, lançado no ano anterior, Lennon agora assume o que o escritor Gary Tillery chamou de cinismo idealista. Na música, o autor questiona as lógicas capitalistas e de orgulho nacional, e vislumbra um mundo idealizado, quase como quem aceita que aquela realidade inventada não é possível.

Há quem ressalte, no entanto, que Imagine retrata uma visão de mundo particular dos anos 1960, que, passados mais de 50 anos, resultou em um crescente individualismo, radicalização religiosa e pouco crédito a ideais amplos. Tanya White, em seu artigo, diz que “Lennon estava errado em Imagine” e destaca a importância de pensar um futuro em que não seja necessário que “todos vivamos só como um”, mas que todos respeitemos a vivência do outro.

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O apagamento de Yoko Ono e o machismo de John Lennon

Em 1964, Yoko Ono (além de companheira de Lennon, uma importante artista conceitual, que usava elementos de performance, literatura e artes visuais em suas obras) publicou sua obra Grapefruit, uma série de textos que propunha ao leitor situações, algo como: “Imagine the clouds dripping. Dig a hole in your garden to put them in”. Muitos dos poemas começam com essa palavra específica: “imagine”.

Em uma entrevista à BBC em 1980, John Lennon afirmou que, quando lançou “Imagine” “era mais egoísta, um pouco mais machão. Eu meio que escondi a contribuição dela, que veio do livro dela, Grapefuit, com peças como ‘imagine isto’, ‘imagine aquilo’. Se tivesse sido Bowie, eu colocaria ‘Lennon-Bowie’, mas era a minha mulher, não pus o nome, sabe?”.

É curioso pensar que, em um música fortemente política, com ideais de igualdade e solidariedade, John Lennon tenha agido de forma tão machista e violenta contra sua companheira – uma atitude de quem, em 2021, seria chamado de “esquerdomacho“. Apenas em 2017, depois de dar declarações afirmando que a decisão havia sido da gravadora e que “foi melhor assim”, Yoko passou a ser creditada pela canção ao lado de Lennon.

Covers para todos os gostos

De Yes a Beyoncé, que a interpretou no seu primeiro concurso de talentos, aos sete anos, Imagine é um sucesso entre todos os públicos. Não à toa, a música voltou a viralizar durante a quarentena: Gal Gadot, a atriz que interpreta a Mulher-Maravilha, convidou uma série de artistas para regravar a música em suas redes sociais durante a fase de isolamento – inspirada em um trompetista italiano que resolveu fazer uma apresentação especial para seus vizinhos no meio da pandemia. Foi Imagine também a composição escolhida por um professor de música gaúcho para gravar ao lado, ainda que virtualmente, de todos os seus alunos.

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