10 mar 2022
MúsicaO cantor e compositor Belchior (1946 – 2017) completaria 75 anos na última terça-feira (26/10). Para homenagear o autor de clássicos como Apenas um Rapaz Latino-Americano e Como Nossos Pais, o Itaú Cultural preparou um conteúdo especial em seu site.
Inspirada no verso “ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”, de sua canção Sujeito de Sorte, a publicação reúne depoimentos de personalidades importantes da família, da música e do jornalismo cultural para respondem a pergunta: como não morrer no ano que vem? Os convidados falam, ainda, sobre a importância do artista em suas vidas e para a cultura do Brasil, além de revelarem suas canções preferidas dele.
Autor da biografia Belchior – Apenas um Rapaz Latino-Americano, o jornalista Jotabê Medeiros utiliza uma frase do músico para tratar do tema dessa efeméride, que diz
“no ano que vem, para sobreviver, eu pretendo amar e mudar as coisas, que é o que me interessa mais”.
Já a cantora e compositora Ana Cañas, que definiu Coração Selvagem e Divina Comédia Humana como suas canções preferidas de Belchior, acredita que não morrer no ano que vem é um grito de resistência e celebração, retomando tudo que foi tirado das pessoas durante a pandemia.
“Entre lágrimas de reencontros, beijos de Carnaval, abraços festivos e catarses musicais, é a vida inflamada novamente. Não morrer no ano que vem é bandeira vacinada do resgate idiossincrático brasileiro, retomando a poesia que nos foi arrancada” diz a artista, que estreou em 2020 um show com as canções do compositor cearense.
Também fazendo referência ao período da pandemia, o filósofo Jair Barboza conta que “se pensarmos nas doenças despertadas por essa situação, na perda de empregos, no que deixamos de viver, haverá um tipo de morte. Porém, no pensamento do filósofo, não existe morte, na verdade o que existe é a vida. A morte é um aspecto da vida. Sendo assim, a resposta seria que não morremos ano passado, não morremos neste ano e não morreremos no ano que vem”.
A publicação no site do Itaú Cultural divulga, ainda, um depoimento exclusivo de Vannick Belchior, filha do cantor, que iniciou recentemente sua carreira na música, explorando a trajetória do pai pelas memórias dos amigos do cantor e em releituras de alguns dos sucessos de sua carreira. As canções preferidas de Vannick e dos convidados dessa homenagem ficam disponíveis para ouvir no Spotify do Itaú Cultural.
Já em Porto Alegre, a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) inaugurou também nesta terça a exposição Belchior Abraços & Canções. Reunindo memórias materiais e afetivas da família que acolheu o cantor e compositor durante parte de seus últimos anos de vida no interior do Rio Grande do Sul, a mostra ocupa a Sala Radamés Gnattali, no 4º andar, e parte do Acervo Elis Regina, no 2º andar da CCMQ (Andradas, 736 – Centro Histórico de Porto Alegre).
A curadora da exposição, Marina Trindade, historiadora da arte pela UFRGS e graduanda em psicologia na Unisinos, juntamente com os pais, Ubiratan Trindade e Ingrid Trindade, mantiveram estreita relação com Belchior durante parte do período em que o artista viveu em Santa Cruz do Sul.
O acervo da exposição agrega registros fotográficos desse período, desenhos de Belchior, dedicatórias e outros escritos, além de objetos pessoais e uma coleção de matérias de jornais sobre o exílio espontâneo do artista longe dos holofotes da mídia, dos palcos e dos estúdios de gravação.
Marina Trindade relata que Belchior morou com ela e com os pais, além de ocupar por um tempo a casa de campo da família. “Nessa exposição, vamos mostrar o arquivo pessoal que fomos construindo desde 2013, quando ele morou conosco. Belchior nos contou, por exemplo, que adorava pintar e desenhar. Houve um projeto realizado pela revista Caras, chamado As Várias Caras de Drummond, que o ‘Bel’ nos apresentou. Ele desenhou e pintou diversos retratos do escritor Carlos Drummond de Andrade. Quatro desses retratos estão na mostra. Todas as fotografias da exposição foram registradas pela minha mãe, Ingrid Trindade, na casa de campo onde ele se hospedou. São alguns dos últimos registros fotográficos de Belchior antes da morte, em 2017”, detalha a curadora.
Além da Sala Radamés Gnattali, o Acervo Elis Regina também recebe alguns itens da exposição.
“Como temos o pijama do Belchior, um livro que ele me indicou e alguns discos, as vitrines expositivas do Acervo Elis Regina nos pareceram o lugar mais adequado. Gostamos da ideia, porque Elis e Belchior têm uma forte ligação, além do grande sucesso das composições dele gravadas por ela” complementa Marina Trindade.
A exposição segue para visitação até o dia 1° de dezembro, das 10h às 20h.
Para lembrarmos a extraordinária obra desse grande nome da música popular brasileira, preparamos uma playlist dedicada exclusivamente a Belchior. Boa audição!