10 mar 2022

Arte

Por que a arte que produzimos ainda é tão pouco acessível?

Em um momento em que a representatividade de uma série de grupos sociais é rediscutida e em meio a uma pandemia que agravou e deixou ainda mais aparentes as dificuldades enfrentadas por essas pessoas, surge como pauta no mundo da arte a questão da acessibilidade e da inclusão de pessoas com deficiência em todas as etapas do processo artístico.

A exposição Presença na Ausência, que nasceu de um projeto acadêmico da artista France Amaral e da designer Sheisa Bittencourt, doutorandas do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social da Universidade Feevale, abre dia 18 de janeiro trazendo esse assunto à tona: a mostra foi pensada por uma equipe multidisciplinar para ser inclusiva para pessoas com deficiência visual, auditiva e com mobilidade reduzida.

Ouça o nosso papo Sheisa Bittencourt e France Amaral, da exposição “Presença na Ausência”, no podcast Entenda

“Atualmente, muitos museus têm a possibilidade de visitação digital, porém não possuem os meios necessários para que a visitação seja acessível. Não temos muitas ações que sejam referências, por isso surge a urgência de criarmos uma exposição que pense a acessibilidade desde a concepção. No Rio Grande do Sul, um dos locais que mais tem pensado sobre isso é o Margs, mas usamos como inspiração também o MoMA, por ser o mais acessível possível”, conta France Amaral, uma das idealizadoras da exposição. Ela conta que, além da mostra, que fica em cartaz até 18 de junho no site presencanaausencia.com.br, o processo inclui mapeamento de iniciativas e publicação de artigos sobre o tema.

A Lei Brasileira de Inclusão (n° 13.146, de 6 de julho de 2015) estabelece que a pessoa com deficiência tem direito à cultura em igualdade de oportunidades com as demais pessoas e garante o acesso a bens culturais em formato acessível. Para isso, dizem especialistas, é essencial não apenas viabilizar ferramentas como audiodescrição e tradução em libras, mas pensá-las e oferecê-las com conteúdo suficientemente esclarecedor para que as obras sejam compreendidas em sua totalidade.

No MoMA, exemplo usado por France como um dos mais bem realizados no mundo, cada processo de ferramenta de acessibilidade oferecido é pensado de forma profunda. As audiodescrições são, como explica o site da instituição, feitas por “professores especialmente treinados, que dão extensas descrições visuais de obras de arte e participam de discussões sobre variados assuntos” envolvendo as obras.

É a isso também que se refere um artigo escrito por Casey Jex Smith, UX designer e artista, que ajuda a explicar o passo que exposições, artistas e museus precisam no que diz respeito a acessibilidade:

“o poder da arte contemporânea, e particularmente da arte conceitual, é que normalmente há ideias, biografias e contexto histórico por trás das obras. Isso dá ainda mais responsabilidade a quem dá espaço a artistas de oferecer descrições criativas e bem pensadas para aprofundar a acessibilidade a seu conteúdo”.

As dificuldades impostas pela pandemia agravaram essa situação e podem servir como impulso para que galerias, museus e artistas pensem em possibilidades de acesso e fruição. No caso da exposição Presença na Ausência, elas se dão por meio de audiodescrição, libras, legendas ou utilizando um leitor de tela. A mostra transformou o Espaço Cultural Feevale em um ambiente 3D acessível e terá obras expostas dos artistas Ananda Kuhn, Ariadne Decker, Carlos Donaduzzi, Chana de Moura, José Maçãs de Carvalho, Leandro Selister, Letícia Lampert, Lisi Wendel, Magna Sperb, Marcela Ferreira Novaes, Mariana Corteze, Martina Berger, Milton Schaefer, Mitti Mendonça, Paula Ruskowski, Pedro Santos, Piper Maru, Rochele Zandavalli, Silvia Rodrigues, Verlisa Navacosta, Victoria Kubiaki e Zhang Qinzhe.

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