10 mar 2022

Cinema

10 anos de Game of Thrones: o que explica o sucesso desta e de outras séries recentes?

Há exatos 10 anos, em um abril menos pandêmico, com assuntos menos urgentes e um público menos digital, estreava aquela que pode ser considerada uma das séries de maior sucesso de todos os tempos: inspirada nos livros As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, Game of Thrones estreou no canal de TV por assinatura HBO em 2011 e, até 2019, quando transmitiu seu último episódio, ganhou impressionantes 59 Emmys, a premiação mais popular da TV norte-americana.

Nos 73 episódios distribuídos entre 8 temporadas, o seriado se acostumou a bater recordes: foi a mais premiada da história, reuniu o maior número de espectadores simultâneos e rendeu inúmeros produtos licenciados – nesta segunda-feira (26), a HBO anunciou o início da produção de uma série derivada, o chamado spin-off (saiba mais no final da matéria). Para comemorar o aniversário da primeira década de Game of Thrones, a HBO divulgou um trailer que resgata os principais acontecimentos em Westeros, sobretudo nas últimas temporadas.

Mas o que faz de Game of Thrones um sucesso tão estrondoso?

Ao podcast Maltin on Movies, o autor George R.R. Martin admitiu que o sucesso da série inspirada em seus livros não era esperado e que ele não tem expectativa de repetir a repercussão em outros produtos, mas especulou sobre os motivos que fizeram Game of Thrones ser algo tão grandioso: segundo ele, o fato de ter um orçamento milionário, condizente com os cenários e personagens desafiadores da ficção proposta, e a qualidade dos profissionais envolvidos foram primordiais nos números alcançados. E ainda ressalta uma realidade que tem a ver com o sucesso não só de sua série, mas de outras produções recentes: “A TV virou o espaço para dramas, enquanto o cinema virou o ambiente para espetáculos”.

Os 5 episódios mais assistidos de Game of Thrones são todos das duas primeiras temporadas

 

T1, E5: The Wolf and the Lion: Catelyn capturou Tyrion e planeja levá-lo para sua irmã, Lysa Arryn, para ser julgado por seus supostos crimes contra Bran. Robert planeja matar Daenerys, mas Eddard se recusa a fazer parte disso e desiste.

T1, E6: A Golden Crown: Enquanto se recuperava de sua batalha com Jaime, Eddard é forçado a governar o reino enquanto Robert vai caçar. Tyrion exige um julgamento por combate para sua liberdade. Viserys está perdendo a paciência com Drogo.

T1, E4 Cripples, Bastards, and Broken Things: Eddard investiga o assassinato de Jon Arryn. Jon faz amizade com Samwell Tarly, um covarde que veio para se juntar à Patrulha da Noite.

T2, E1: The North Remembers: Tyrion chega a King’s Landing para assumir o lugar de seu pai como Mão do Rei. Stannis Baratheon planeja tomar o Trono de Ferro para si. Robb tenta decidir seu próximo movimento na guerra. A Patrulha da Noite chega à casa de Craster.

T1, E3: Lord Snow: Jon começa seu treinamento com a Patrulha da Noite; Ned confronta seu passado e futuro em King’s Landing; Daenerys se encontra em conflito com Viserys.

Outro aspecto compreendido cedo pelos produtores da série foi a necessidade de driblar a pirataria – a série é considerada também a mais assistida ilegalmente na história, apesar da dificuldade de obter números oficiais sobre o tema. Em uma era marcada pelo binge-watching (o consumo de muitos episódios no mesmo dia, algo possível graças a empresas que lançam temporadas inteiras ao mesmo tempo), Game of Thrones apostou na dinâmica das novelas, com um episódio por semana – transmitido simultaneamente em todo o mundo. Isso fez com que episódios da série se tornassem eventos, reunindo espectadores em bares e estimulando o uso da segunda tela para comentários. Era raro um episódio de GoT que não figurasse nos trending topics do Twitter.

“Apesar de ter uma história complexa, com muitos personagens, casas, lugares e acontecimentos, Game of Thrones trazia um apelo conhecido da disputa pelo poder de um forma um pouco mais ousada, em que qualquer personagem poderia morrer (e essa incerteza também gerou uma excitação entre as pessoas pela novidade narrativa). Tudo isso com doses de magia, dragões e todos os elementos fantásticos que costumam atrair um tipo específico de público. Além disso, grande parte da força da série estava em seus personagens, feitos para amar ou odiar. Eles evoluíam, cometiam erros, não eram tão estanques em um lugar designado como “bom” ou “mau”, e essa complexidade humana deles também agradou aos fãs. Cada vez mais as pessoas foram se apegando aos personagens, querendo saber quem terminaria no trono de ferro, elaborando mais e mais teorias (e Game of Thrones também tinha essa vantagem de ser uma história feita para ser dissecada e discutida, com mistérios a serem descobertos ou próximos passos a serem previstos) e assim a série se transformou mundialmente em assunto do dia a dia e parte da cultura popular”, explica Ana Bandeira, mestre em Comunicação e autora dos livros Spoiler.

Se o formato funcionou melhor nas primeiras temporadas (perceba que os episódios de maior sucesso são todos da primeira ou da segunda temporada), os últimos episódios decepcionaram os fãs – algo não raro entre séries de sucesso. Mas a galinha dos ovos de ouro chamada Game of Thrones não deve parar: a HBO, empresa que produziu as oito temporadas de GoT, anunciou nesta segunda-feira que começou a produção de House of the Dragon, spin-off focado nos Targaryen, que já tem 10 episódios encomendados pelo canal. A trama do derivado se passará cerca de 300 anos antes dos eventos da primeira temporada da série original e tem estreia prevista para 2022. O elenco conta com nomes como Paddy ConsidineOlivia CookeMatt SmithEmma D’Arcy Fabien Frankel, entre outros.

O momento, avalia Ana Bandeira, é propício para o consumo ainda maior de séries e produtos de entretenimento: “Acredito que a pandemia intensificou o consumo de todo tipo de entretenimento, pois as pessoas precisam encontrar alguma forma de distração em casa. De forma geral, os streamings popularizaram as séries, pois antes, para ter acesso a algumas, era preciso recorrer ao download. Hoje temos uma oferta cada vez maior, em diversas plataformas, e o acesso ficou mais fácil. Então esse processo já vem acontecendo há algum tempo. Porém, na pandemia, as pessoas acabam tendo mais tempo para mergulhar nas séries, pois os momentos ‘economizados’ fora do trânsito, por exemplo, permitem que assistam mais episódios, terminem mais rápido uma temporada ou série e passem para a próxima. Esse processo, que costumava ser um pouco mais lento, acaba então se acelerando na pandemia. E, claro, as séries permitem manter uma relação mais longa com universos e personagens, então também é uma forma de ficar mais tempo envolvido com uma só história, o que acaba sendo bom para quem quer se distrair durante uma longa pandemia como a nossa.”

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